Portugal assistiu, ontem, à maior manifestação contra o governo desde os anos 80. Eu fui, sacrificando, desta maneira, uma entrevista de emprego marcada para a mesma hora. Por várias razões - que não importa aqui explicitar - pareceu-me muito mais importante marcar a minha posição face à realidade actual do país. Não fazia ideia, de todo, que me iriam esperar mais de 80 mil pessoas. Senti-me, ao mesmo tempo, emocionado e revoltado. Alegre por, finalmente, as pessoas se unirem para protestarem contra aquilo que está mal, e triste por constatar que tanta gente não está bem, não está contente. Mas os maiores e mais "irracionais" protestos ouvi-os de quem menos esperava: dos trabalhadores, sobretudo jovens (estafetas, um tipo dos reboques...) que assistiam a esta parada de descontentamento. Fiquei completamente estupefacto. Será que este pessoal não compreende? Não quer compreender? Enfim... procurei ignorá-los.
Hoje comprei o jornal. Percebi que tinha havido outra reacção a esta manif. Uma reacção de indiferença. Faço, então, minhas as palavras da reportagem de O PÚBLICO, que acompanhou a manif...
"Diálogo à saída da loja de malas de luxo Louis Vuitton:
Primeira mulher (dedo em riste, apontando à montra) - Olha, é igual à minha mala de viagem, não é? Mas não achas (caro)...?
Segunda mulher - 830 (euros). Não, não acho."
Tristemente real.
