Sunday, February 26, 2006

Lilás, isso não se faz!

Tinha um cabelo improvável assente numa personalidade moldada em calda. De açucar. Na saia entrava, invariavelmente, a impertinência do meu olhar. Eram garridas, as saias. Como as nossas conversas, debates, discussões, calares.
Houve um dia, porém, em que apareceu de calças, careca. Olhei-a com o medo a um desconhecido. Pela primeira vez não tinha palavras para lhe dar.
"Que foi? Parece que viste um fantasma!" - disse.
Continuei sem conseguir arrancar sequer um som de mim.
"É o novo visual, não é? É isso! Está demasiado radical... Estás chocado?" - afligiu-se.
"Não", disse, sem me achar convincente", é que nunca tinha reparado antes em todo o azul dos teus olhos". Suspirei.

Friday, February 24, 2006

Empregos que já tive:

1. Tradutor
2. Animador
3. Caterer
4. D.J.

Quatro filmes vistos e revistos:

1. Platoon
2. O Fabuloso Destino de Amélie Poulan
3. Delicatessen
4. O Padrinho

Quatro sítios em que tenha habitado:

1. S. Domingos de Rana
2. Entrecampos
3. Bairro Alto (em cima do Mahjong... Christ!)
4. Av. Defensores de Chaves

Quatro Séries Que Adores:

1. Friends
2. Seinfeld
3. Couplings
4.

Quatro locais de veraneio / férias:

1. Algarve
2. Costiere Malfitana
3. Capri
4. Mónaco (eh eh)

Quatro dos teus pratos preferidos:

1. Feijoada
2. Bacalhau com Natas
3. Bacalhau à Lagareiro
4. Robalo Grelhado

Quatro sites visitados diariamente:

1. Publico
2. Badaboom
3. Google
4. Record

Quatro locais onde preferisses estar neste momento:

1. Nevada
2. Nova Zelândia
3. Irlanda
4. Capri

Quatro bloggers de devoção:

1. Moranguito
2. Ventilan
3. Quebra
4. O Escafandro (entre outros)

Monday, February 20, 2006

A luz

Sonhei com escadas, milhares de escadas, que subia em passo de corrida, aprisionado num pesadelo de Escher, sem luz à vista à excepção de uma ténue luz ao fundo do túnel, luz essa que não parecia nunca aproximar-se. Por mais que andasse, que corresse, que lhe gritasse, a luz parecia estar sempre no mesmo sítio. A jeito de desabafo ou por puro cansaço, penso que parei. Agarrei o corrimão, apanhei estilhaços de fôlego, olhei para o caminho percorrido. Tudo parecia igual ao lugar de onde havia partido. Apenas estranhava o facto de não me lembrar de alguma vez ter partido. Parecia que havia estado sempre ali. Sempre ali. Sempre ali.
Lembrei-me da necessidade absoluta e inexplicável de continuar em frente, sempre a subir. Quando me ponho em marcha, a luz, que antes se encontrava lá ao fundo, estava - como por magia, na qual não acredito - à minha frente. Uma luz forte, intensa, porém não-ofensiva. Preparei-me então para a transpôr.
E acordei.
Às vezes parece-me que a vida não tem meta-de-partida.

Monday, February 13, 2006

Sabedoria d´A Bola!

Nunca a pérola chega à mão quando se pensa no Tubarão!
(o que é que isto quer mesmo dizer???)

Thursday, February 09, 2006

Um dia passaste com a língua pelos lábios e eu apaixonei-me de imediato por ti. Sem remissão, num abrir e fechar de olhos, tiro-e-queda: sou teu, faz de mim o que quiseres.
Faz de mim o que quiseres, desde que me sacies.
Farei de ti o que desejo que me façam. Sacia-te saciando.
Saracoteia-te até aqui, até mim. Aguardo-te, guloso. Tira a embalagem, livra-te do invólucro. Deixa-me saborear-te assim mesmo. Deixa-me enriquecer-te com cada palavra. Cada som, uma língua.
Núa.
Cada palavra uma pérola para te esfregar no corpo, para massajar o desejo. Avança para mim devidamente acicatada no teu orgulho predatório. Deixa-me fingir ser a tua presa. Serás a minha prisioneira. Brinca contigo como eu o faço. Usa as tuas mãos com princípios, menina. Aqui me tens a meio. Veremos o fim? Já estás nua?
No minuto seguinte, arrotaste. A núvem em que subia subitamente dissipou-se.
Tens montes de Vénus dentro de ti. És sedutora. Desenvergonhada. Desvairada. Tórrida. Lânguida. Ardente. Fulminante.
Serei algum dia o teu alpinista?
O abraço inesperado.
O teu sorriso.
O aviso de que ias partir para longe.
O lamentar da falta de "timming" da minha parte.
O rirmos, para desanuviar. Rir, como diz a música, para não chorar.
O hesitar não segurar a tua cara e beijar-te como no
abraço inesperado,
Nos filmes.
O perder-me em palavras palavras palavras limpas tão facilmente pela certeza de que te iria perder, por uns dias, para sempre.
O teu sorriso.

Tuesday, February 07, 2006

Há tempo.

Para sempre para ti significa nada para mim. A nossa dança não se resumia a um movimento de ancas, um twist. Talvez dessemos uma volta completa. Não. Nesta dança já há muito mudámos de pares. És fria, por isso fantasma. Não sabes para onde vais. Por isso, fantasmas por aqui. Não fantasmes mais.
As tuas palavras foram um desenho que esbocei, estou certo disso. O tempo passou desde que as proferiste, quase formando um escudo, quase como se não tivesses já boca porque não me recordo de uma fotografia tua na minha memória. As tuas palavras são como flocos de neve.
Para sempre só o será porque és fantasma não-exorcisado, ainda não-expulso. És um papel esquisito sobre o qual escrevo duas ou três linhas e depois desisto. Um papel estranho onde as palavras não param de brincar umas com as outras, de voar de um lado para o outro - porque escrevo a preto.
Como as palavras no meu papel, eu não páro de correr e estou de preto. Como uma conversa encontrada debaixo da sola de um sapato. Não páro de correr até descolar. Daí vou até à lua.
Uma cadeira confortável é tudo do quinhão que me calha da vida que me interessa. Só preciso de um dia para que o meu corpo se afeiçoe a ela. Para que se sinta à vontade para nela dançar, desenhar, fotografar, sonhar com os sonhos estranhos que me fazem querer sonhar mais para nunca mais acordar.
Enquanto durmo, as tuas palavras nevam lá fora. Tu navegas. Elas caem como se não fosse haver amanhã, como se o dia fosse sempre noite. O dramatismo das nossas palavras deixa-me louco.