Thursday, November 17, 2005

a bicicleta do pudor

Nunca disse nada tão estúpido como "amo-te". Nunca deixei que isso fosse sair cá para fora. Prendo muitas coisas cá dentro.
Todas as noites faço questão de olhar pela janela, olhando para a avenida imensa que desfila pela vista, espraiando-se, entrecruzando-se, tortuosa, como se de uma cor de memória se tratasse.
Coisas, coisas simples, como andar junto, falar com, ouvir a música que sai de uma velha mercearia, tudo isso faz parte desta avenida.
Nunca disse algo tão estúpido a alguém. Nem sequer a amigos que sabem coisas de mim que eu próprio vou desconhecendo.
Não tenho tempo para reparar naquilo que deve ser reparado. Houve um dia em que isso aconteceu, confesso mas, então, tinha mais tempo. Não tenho sequer tempo para a lembrar o teu nome.
Depois de andar junto, acicatado pela imensa dor de, de repente, me ver sózinho, gosto de espreitar pela janela. Pensar como até este mundo faz parte de mim. Como as pessoas fugídias são memórias desafinadas mas, só por isso, não perdem o valor.
A enorme ingratidão de ouvir esta música que alguém disse um dia gostar. A mercearia na qual costumavamos roubar uma ou duas maçãs. Tudo isto foi trincado e remoído por mim. Saboreado.
Sabe-o já.

2 Comments:

Blogger Titá said...

Não guardes tanto para ti...partilha isso com o mundo, sem pudor

3:44 PM  
Blogger Sereia said...

Não imaginas como te vais sentir...simplesmente FELIZ!

3:02 AM  

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